Síndrome do chicote é o que ocorre quando um indivíduo sofre um mecanismo repentino de desaceleração ou aceleração, imposto à região cervical. Isso é comum em acidentes de carro, por exemplo.
Com isso, a região cervical pode sofrer danos consideráveis e o paciente sofrer consequências quando isso ocorre.
De fato, as consequências podem ir desde um leve desconforto na região do pescoço, sem grandes preocupações, até lesões bastante sérias, afetando músculos e articulações da região cervical.
Daí a importância do diagnóstico correto e também do tratamento adequado.
A síndrome do chicote também é conhecida por síndrome da desaceleração, lesão de desaceleração ou, inglês, por whiplash syndrome.
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Causas
A principal causa da síndrome do chicote, ou seja, de lesão na região da nuca causada pelo movimento brusco da cabeça para frente e para trás é um acidente automobilístico, mas não é a única causa.
Violência, como em situações de abuso físico, ou ainda, em esportes como rugby, judô ou boxe, por exemplo, podem levar a esse tipo de lesão.
Por definição, a síndrome do chicote é caracterizada pela desaceleração repentina, quando não há tempo da musculatura e estruturas anexas se prepararem para o impacto da abrupta desaceleração.
Não há diferença no geral entre gêneros que mais sofrem esse tipo de lesão, porém, somente no caso de situações de abuso físico, as mulheres formam a maioria das vítimas.
Muitos acreditam que esse tipo de lesão no pescoço só ocorre em acidentes automobilísticos em alta velocidade, porém, isso não é verdade.
De fato, a síndrome do chicote pode ocorrer em acidentes com automóveis em alta ou baixa velocidade e até com o veículo parado, em uma colisão traseira.
Sintomas
Os principais sintomas da síndrome do chicote estão relacionados à extensão repentina e torção dos tecidos moles presentes na região cervical. Assim, a região mais afetada é o pescoço.
Com isso, além da dor no pescoço, pode haver danos nas estruturas ósseas, o que também pode comprometer nervos, visto que essa é uma região com grande número de terminações nervosas, tanto vindas do cérebro como da medula espinhal.
Dentre os principais sintomas, pode-se citar:
- Dor na região do pescoço;
- Dificuldade de movimentação da cabeça, devido à dor e rigidez do pescoço;
- Dor de cabeça;
- Ombros doloridos;
- Formigamento e/ou dormência dos braços;
- Tontura;
- Visão embaçada;
- Irritabilidade;
- Dificuldade em dormir;
- Zumbido no ouvido;
- Problemas de memória, sobretudo memória recente.
Classificação da Síndrome do chicote
Dependendo do grau de comprometimento das estruturas cervicais, pode-se classificar a síndrome do chicote em quatro graus, conforme preconizado pela Quebec Task Force:
- Grau I: sem sinais clínicos, apenas manifestações de dor e rigidez muscular, relatadas pelo paciente;
- Grau II: sinais músculos-esqueléticos, associados às manifestações de dor;
- Grau III: sinais neurológicos, associados às manifestações de dor;
- Grau IV: sinais de fratura ou luxação cervical, associados às manifestações de dor.
Diagnóstico
O diagnóstico é bastante guiado pelos sinais e sintomas apresentados pelo paciente, sobretudo ao mencionar a existência de trauma recente (acidente, trauma de esporte ou violência).
Dessa forma, o fisioterapeuta fará algumas perguntas sobre como é a dor, quando começou, se piora ao tentar movimentar a cabeça e se houve algum trauma recente. Esse questionamento pelo fisioterapeuta é essencial para direcionamento das hipóteses do que pode ser a causa da dor.
Com isso, as hipóteses diagnósticas são levantadas e assim, o fisioterapeuta pode solicitar alguns exames de imagem, que podem confirmar, ou não, a suspeita.
Dentre os exames de imagem mais solicitados, estão radiografias da região cervical, tomografia computadorizada e ressonância magnética.
Assim, com os dados das informações fornecidas pelo paciente, análise física e com a análise dos exames de imagem, caso haja suspeita, o fisioterapeuta pode encaminhar ao ortopedista que estabelecerá o diagnóstico correto do problema.
Tratamento
O esperado para a síndrome do chicote, com o tratamento adequado, é que a dor no pescoço desapareça em algumas semanas. A maioria dos pacientes já sente melhora após alguns dias. Porém, já outros pacientes podem levar meses até a melhora.
Dor crônica e tratamento multidisciplinar
Em alguns casos, a dor resultante da síndrome do chicote pode se tornar crônica. Nesses casos, há necessidade de tratamentos mais prolongados e até multidisciplinares, sobretudo se há presença de outros sintomas, como crises de ansiedade e depressão, por exemplo.
Em pacientes vítimas de acidentes automobilísticos, por exemplo, pode haver dificuldade em voltar a dirigir ou até mesmo síndrome do pânico, ao retornar para um veículo.
Já para outros pacientes, há enorme dificuldade em dormir, visto que o paciente pode constantemente relembrar do momento do acidente. Nesses casos, a utilização de medicação antidepressiva e controle da ansiedade reflete diretamente na dor sentida pelo paciente.
Portanto, o tratamento multidisciplinar, com foco no lado emocional do paciente, em casos de acidentes e presença de dor crônica, é bastante recomendado.
Medicação e uso de colar cervical
Inicialmente, a prescrição de analgésicos e relaxantes musculares, para retirar o paciente da crise aguda de dor é benéfica nestes casos.
Já sobre o uso do colar cervical, apesar de muito utilizado, existem fortes evidências científicas de que o colar não contribui para a resolução do quadro agudo. A recomendação, portanto, é a volta gradual das atividades e exercícios terapêuticos sob supervisão do fisioterapeuta.
Síndrome do chicote e fisioterapia
Sempre como parte integrante do tratamento, as intervenções fisioterápicas são fortes aliadas na melhora do quadro da síndrome do chicote. Isso porque com um plano de tratamento individualizado, o fisioterapeuta conseguirá, aos poucos, fazer com que o paciente retorne a ter mobilidade na região.
Em relação aos exercícios, diversos tipos podem ser prescritos e o fisioterapeuta poderá escolher o mais adequado para cada paciente. São exemplos de exercícios terapêuticos: exercícios de amplitude de movimento, exercícios de McKenzie, exercícios posturais, exercícios de fortalecimento e exercícios de controle motor.
Outras terapias, como a eletroestimulação transcutânea (TENS), auxiliam no alívio da dor. E o fisioterapeuta também pode fazer liberação muscular, mobilizações e bandagens, para melhorar o quadro de dor do paciente, conforme o caso clínico.
Bloqueios terapêuticos
Em alguns casos, o bloqueio de algumas terminações nervosas em pacientes pode apresentar bons resultados, sobretudo para pacientes que possuem baixa tolerância ao tratamento fisioterapêutico.
Com o bloqueio, a terminação nervosa será temporariamente dessensibilizada, dado que o bloqueio tem uma duração determinada, ou seja, não é para sempre.
Após os bloqueios das terminações nervosas, os pacientes se tornam mais tolerantes às sessões de fisioterapia, podendo evoluir melhor no tratamento.
Por último, é essencial lembrar que o tratamento fisioterapêutico continuará para o paciente, mesmo quando passar pelo procedimento de bloqueio.
Complicações da síndrome do chicote
Dependendo do grau de trauma sofrido na região cervical, podem ocorrer fraturas e pinçamentos nervosos.
Sintomas neurológicos, tais como formigamento dos braços ou perda da força de membros superiores, são indicativos de consequências mais severas do trauma sofrido.
Dessa forma, a análise neurológica do paciente, com o auxílio de exames de imagem, como a ressonância magnética, por exemplo, são importantes para verificar lesões de fratura nas vértebras cervicais e comprometimento das terminações nervosas, o que resultam em sintomas mais severos.
Por último, no surgimento de sintomas emocionais, o cuidado e atenção com o lado emocional do paciente é também importante, para que o processo de dor possa ser tratado em sua totalidade.
Como prevenir a síndrome do chicote?
A prevenção para esse problema passa pelo uso correto do cinto de segurança e usar veículos, conforme estabelecido por lei, que tenham encosto para a cabeça.
Dirigir defensivamente, sempre sendo cuidadoso e guardando distância do veículo à frente pode contribuir para diminuição dos acidentes automobilísticos.